Um estudo publicado em 4 de agosto no jornal The New England Journal of Medicine vem causando apreensão na internet ao relatar 35 casos de infecção por um novo vírus, chamado Langya henipavirus (LayV), que parece ser transmitido de animais para pessoas.
Os pacientes relatados no estudo são provenientes do leste da China. Segundo o site da revista britânica New Scientist, o LayV faz parte de um gênero de vírus chamados henipavírus que são normalmente alojados em morcegos frugívoros (comem frutas). O vírus Nipah, identificado pela primeira vez em 1999 na Malásia, também faz parte desse gênero e causa infecção com alta taxa de mortalidade.
Os cientistas fizeram a descoberta do Langya a partir de pacientes, especialmente agricultores, que apresentavam febre e tinham histórico recente de exposição a animais infectados nas províncias chinesas de Shandong e Henan, entre dezembro de 2018 e maio de 2021.
Sintomas do henipavírus
Das 35 pessoas analisadas, 26 tiveram febre como principal sintoma, revela a New Scientist. A fadiga foi o segundo sintoma mais comum (54%), seguida de tosse (50%) e dores musculares (46%).
Além disso, 38% sentiram náuseas, 35% tiveram dor de cabeça e outros 35% apresentaram vômitos.
Mais da metade (54%) tinha leucopenia, que é a redução de glóbulos brancos no sangue, afetando o combate à doença. Mais de um terço (35%) teve trombocitopenia, baixo número de plaquetas (células de coagulação sanguínea).
Problemas hepáticos (fígado) foram relatados por 35% dos infectados.
Origem do vírus Langya
Como mostra a New Scientist, os cientistas testaram 25 espécies de pequenos animais selvagens. Mais de um quarto (27%) dos 262 musaranhos (Suncus etruscus) analisados apresentaram níveis detectáveis de Langya henipavirus, sugerindo que eles podem ser o reservatório natural do vírus.
Segundo os cientistas, os musaranhos foram a principal fonte de Langya henipavirus (Wikimedia / Trebol-a / Materialscientist / Creative Commons)
Em relação a animais domesticados, o micro-organismo foi encontrado em quatro de 79 cães (5%) e três de 168 cabras (2%).
Os pesquisadores não encontraram evidências de transmissão entre pessoas que tiveram contato com infectados pelo vírus. Ao rastrearem 15 familiares e contatos próximos de nove dos pacientes, não foi identificada transmissão do LayV. Isso sugere que, por enquanto, o vírus não passa de pessoa para pessoa, mas sim de animal para pessoa (típico das zoonoses).
No entanto, o tamanho da amostra é muito pequeno para descartar a transmissão entre humanos, alertam os cientistas.
Pode causar uma possível pandemia?
Nenhuma morte foi relatada entre os infectados com henipavírus na China, até agora. Uma parte das pessoas analisadas no estudo tiveram pneumonia, mas a gravidade do quadro não foi especificado, afirma a New Scientist.
De acordo com o pesquisador François Balloux, da Universidade College de Londres, que não esteve envolvido no estudo, o fato de haver tão poucos casos de 2018 a 2021 (período da pesquisa) sugere que o LayV não está se espalhando rapidamente. “É improvável que o vírus seja do tipo que passa facilmente de pessoa para pessoa e possa causar uma epidemia ou pandemia”, comentou o especialista à revista britânica.
No entanto, ele disse que a fonte mais provável de qualquer pandemia futura será um vírus que salta de animais para humanos. “A grande maioria de nossos patógenos vem de populações animais. Acho que estaremos mais preparados para um evento do tipo Covid-19, quando acontecer. Acho muito provável que isso aconteça nas próximas décadas”.
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