Cuidar de quem cuida

Negligência de médicos com a própria saúde acende sinal vermelho, atesta Drauzio Varella

Tema foi debatido em evento da Unimed BH que reuniu 3 mil profissionais em BH

Do HOJE EM DIA
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Publicado em 27/10/2025 às 06:02.
“O corpo não pode ser levado às últimas consequências”, diz Drauzio Varella, chamando atenção para a prevenção de sedentarismo, má alimentação e transtornos psiquiátricos entre colegas (Unimed BH /Divulgação)
“O corpo não pode ser levado às últimas consequências”, diz Drauzio Varella, chamando atenção para a prevenção de sedentarismo, má alimentação e transtornos psiquiátricos entre colegas (Unimed BH /Divulgação)

Médicos cuidam muito mal da própria saúde. A constatação parece paradoxal – mas, de tão real, acende uma luz vermelha na categoria e vem levando a uma mobilização entre os próprios profissionais para convencê-los a olhar para si mesmos, e não apenas para os pacientes. Lembrar que quem cuida também precisa ser cuidado foi um dos temas abordados no 20º Encontro de Cooperados da Unimed BH. O evento reuniu 3 mil médicos na capital mineira.

Um deles veio a Belo Horizonte especialmente para dar o recado: é preciso mudar essa mentalidade de cuidar de si só “depois”. Aviso de ninguém menos que Drauzio Varella. Aos 82 anos, mais de 50 deles dedicados à medicina, o profissional que se tornou referência no país ao traduzir informações sobre saúde para a população participou do evento para dar um “puxão de orelha”, com a elegância que lhe é peculiar, nos colegas.

“O corpo não pode ser levado às últimas consequências”, diz Drauzio. 

Para ele, médicos que fazem o que recomendam aos pacientes são exceção. “E isso é ruim. A profissão é muito estressante. Em geral, trabalha-se muito, por várias horas, a privação de sono é comum. Veja o absurdo de a pessoa ter um trabalho noturno e no dia seguinte emendar. Em nenhuma profissão se faz isso, a regra é quem trabalha à noite no dia seguinte descansar”, compara. 

Some-se a isso uma certa sensação de onipotência, trazida ao longo do tempo. “A gente acaba achando que aguenta, que dá conta”. Mas, uma hora, a fatura chega, e o valor cobrado é alto. Para Drauzio, as principais consequências desse comportamento são o sedentarismo e a alimentação desregrada – hábitos que os médicos tentam riscar da vida de quem vai ao consultório – e transtornos psiquiátricos. 

“Você pega o plantão noturno de médicos, o que eles fazem? Pedem pizza. Porque é mais prático, você come o que dá, quando dá. Mas você não recomenda isso para seus pacientes”, exemplifica. Reduzir as longas jornadas de trabalho, em plantões ou diferentes empregos, é outro desafio. 

Boa notícia é que dá para virar essa chave. Para Drauzio, o primeiro passo é o profissional se conscientizar que o corpo tem limites. O segundo é levar essa constatação a sério. “Assumir que se continuar a levar a vida assim, vai pagar um preço muito alto”, diz.

Para Frederico Peret, diretor-presidente da Unimed BH, a solução passa pelo equilíbrio, essencial num mundo cada vez mais complexo e acelerado. “Antes de sermos médicos, somos humanos. Cuidar da saúde deve começar por nós mesmos”.

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