O envelhecimento compromete a fertilidade masculina e pode afetar até a saúde dos bebês. E não estamos falando de pais na casa dos 70 ou 80 anos. Pesquisas recentes associam idade paterna superior a 44 a complicações que vão de menor taxa de gravidez a maior risco de aborto e parto prematuro, podendo ainda elevar a probabilidade de autismo, por exemplo, nas crianças.
Balde de água fria nos homens que não imaginavam existir uma data-limite ideal para procriar, os estudos na área precisam de maior aprofundamento, mas já acendem um alerta entre especialistas. Até pouco tempo atrás, o foco estava na redução da capacidade reprodutiva da mulher. Agora a preocupação passa a alcançar a saúde masculina, o que pode – ou ao menos deveria – afetar também as políticas públicas de planejamento familiar e de cuidados anteriores à concepção.
Professora titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Márcia Mendonça Carneiro explica que o avanço da tecnologia e da genética mudou a ideia de que o homem poderia ser pai “quando bem entendesse”. Ele continua produzindo espermatozoides, mas a qualidade diminui. As alterações genéticas podem ser responsáveis pelo desenvolvimento de doenças nos herdeiros, como autismo, leucemia, esquizofrenia e dislexia, sinalizam estudos ao redor do mundo.
Cautela
“É preciso ficar claro que não se trata de uma relação de causa e efeito”, diz a médica. Ou seja: não é porque o homem está mais velho que certamente terá dificuldade para engravidar a parceira ou irá conceber um filho com alguma condição especial.
No entanto, as pesquisas sugerem que alguns caminhos são paralelos. “Quando se compara crianças afetadas e não afetadas, tudo começa a chamar atenção para o fato (da idade paterna avançada)”, diz.
Tema relativamente “novo” na ciência, a paternidade tardia foi um dos assuntos abordados em um congresso sobre infertilidade realizado em setembro, na Grécia, com especialistas de vários países. Diretora científica da Clínica Origen, a médica participou do encontro e diz que a tendência é a de novos achados surgirem, uma vez que a comunidade científica despertou para a questão e segue investigando várias hipóteses, em especial nos últimos dois ou três anos.
Preparação
Para o homem que já decidiu ter um bebê, cuidados com a saúde são essenciais, pois o estilo de vida do pai interfere tanto na fertilidade quanto na gestação.
Márcia Carneiro explica que a exposição masculina a inseticidas, toxinas e produtos farmacêuticos, drogas, armas químicas e radiações ionizantes e a ingestão de alimentos ultraprocessados podem impactar no desenvolvimento fetal e na saúde dos filhos.
“Situações de trauma e estresse, exposição ambiental a poluentes e disruptores endócrinos, tabagismo, álcool e obesidade também têm sido relacionados à redução na concentração de espermatozoides”, diz a especialista, que se preocupa particularmente com a falta de um protocolo de saúde pública para orientar os homens sobre os cuidados periconcepcionais.
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