Sem crise em casa: preparação permite que animais recebam 'irmãozinhos' com naturalidade

Patrícia Santos Dumont
24/01/2019 às 16:06.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:12
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

A chegada de um bebê em casa transforma a rotina de todo mundo, incluindo a relação dos tutores com os animais de estimação. Para evitar comportamentos indesejados dos pets, como xixi fora do lugar, latidos excessivos e até reações agressivas, o segredo é começar a “am-bientação” da nova família já durante a gestação.

Grávida de 8 meses da primogênita Rafaela, a dentista Flávia Porcaro Lacerda Pimenta, de 36 anos, deixa o shitzu Rodolfo, de 11, à vontade para se acostumar com a chegada da nova moradora. “Sempre mostro roupinhas, sapatinhos e brinquedos e deixo ele cheirar. Quando me distraio e ele não está por perto, certamente está no quartinho dela”, conta. 

Para evitar qualquer reação enciumada do cachorro, naturalmente ciumento, ela pretende incentivar a relação entre os “irmãos”. “É claro que nos primeiros meses não posso permitir tanto contato, mas, assim que puder, serão melhores amigos! A entrada dele no quarto da Rafaela estará sempre liberada, desde o primeiro segundo”, avisa. Riva Moreira

PREPARANDO TERRENO - Flávia vem acostumando Rodolfo, que tem 11 anos, para a chegada de Rafaela - prevista para chegar em fevereiro: “Mostro e deixo cheirar as roupinhas. A sensação é de que ele sabe o que está por vir”

Preparação 

Tutora de Lola e Madá, de 4 e 3 anos, respectivamente, a corretora de seguros Mariana Ramos de Castro Furtado, 34 anos, também preparou o terreno para que as “meninas”, como são chamadas, não estranhassem a chegada de Raul, hoje com 1 ano. Orientada por um adestrador contratado para treinar a dupla antes que conhecesse o recém-nascido, comprou uma boneca bebê e reproduziu a rotina que teria com o primeiro filho. 

“Sentava na poltrona com ela no colo e deixava que cheirassem, ficassem por perto. Não demorou para que substituíssem meu colo pela região mais abaixo nas pernas, como se soubessem que tinha alguém ali que não podia ser amassado”, conta.

Com o tempo, Lola se transformou em guardiã do irmão, enquanto a cadelinha mais nova preferiu manter certa distância. “A Lola acha que é mãe do Raul, não gosta que as pessoas encostem nele, nem a gente. Já a Madá escolheu não interagir tanto. O importante é respeitar as escolhas. Eles também têm personalidades e as próprias vontades”, pondera.

Adestradora na Cão Cidadão, Natália Augusta Vitoriano, que, inclusive, está grávida do primeiro filho, diz que é exatamente por aí que a relação deve caminhar. Segundo ela, o ideal é apresentar o pet ao bebê antes mesmo da chegada dele ao mundo. Caso não seja possível, a profissional recomenda a aproximação gradual entre os dois, de preferência em ambiente neutro, um parque ou praça, por exemplo. Riva Moreira

DESCOBERTAS - Mariana e Henrique fizeram tudo o que era recomendado para que Lola e Madá não estranhassem a chegada de Raul. A relação dos três é tão boa, que a corretora de seguros dispensou a babá eletrônica. “A Lola sempre se considerou a mãe do Raul. Se ele respirava diferente no berço, ela já corria e latia. Já a caçula, acha que é o bebê da casa e preferiu se afastar”

Vida normal 

Tranquila quanto ao comportamento da shitzus Panda, 3 anos e 9 meses, e Mel, 1 ano e 7 meses, a advogada Bárbara Moreira Siqueira, de 29 anos, nem precisou se preocupar com a chegada de Maria Cecília, que completou 7 meses. Dóceis e carinhosas, as cadelinhas se relacionam bem com a menina e nunca apresentaram problema de comportamento. 

“Elas adoram brincar no quarto da Maria Cecília, para onde levam todos os brinquedos. Agora que a Maria já as reconhece, estica a mãozinha para pegá-las, dá o pé para lamberem. A Panda deu uma estranhada, só aceita a Maria Cecília se estiver sozinha. Vamos ter que comprar uma cama maior para caber toda a família”, brinca. 

Ponto a ponto:

Confira dicas da adestradora Natália Augusta Vitoriano:

– Cães são inteligentes e sensíveis e conseguem perceber a presença de um bebê antes mesmo de chegarem ao mundo, na barriga. Aproveite a gestação para fazer correções necessárias no comportamento dele.

– Dê atenção ao pet e não o abandone. Animais com sentimento de rejeição tendem a ter comportamentos inadequados, como fazer xixi fora do lugar, latir demais ou ficarem agressivos. Aproveite o cochilo do bebê para fazer um passeio rápido ou brincar dentro de casa.

– Deixe o pet participar de momentos prazerosos com o bebê, como na hora da alimentação. Assim, o pet associará o novo morador a momentos felizes em família.

– Cães com comportamentos instáveis, que atacam estranhos ou a própria família, devem ser adestrados o mais cedo possível, independentemente da chegada de um bebê. De acordo com a adestradora, são animais, na maioria das vezes, estressados, infelizes ou inseguros.Lucas Prates

UNIDOS E EM PAZ - Primeira filha de Bárbara, tutora de Panda e Mel, Maria Cecília foi bem recebida desde o primeiro dia: “Às vezes, dormimos todos na mesma cama. Brinco com meu marido que precisamos de uma cama maior, já que a família cresceu”

 Contato mais próximo entre bebê e pet é recomendado somente após primeiros 30 dias

Do ponto de vista médico, levando em conta a saúde do bebê, a recomendação de especialistas é que um contato mais próximo entre o cão e o recém-nascido aconteça somente após os primeiros 30 dias. O objetivo, mesmo que o animal esteja com as vacinas em dia, é evitar, principalmente, o surgimento de alergias respiratórias na criança. 

Ainda que a convivência se mantenha mais distante nessa fase, a dica da pneumologista pediátrica e professora na UFMG Laís Meirelles Nicoliello Vieira é para que o pet habite a casa normalmente, antes mesmo da chegada do recém-nascido. A ideia é criar um ambiente menos propenso ao surgimento de alergias nos humanos. 

“Como o recém-nascido ainda não tem a imunidade completamente desenvolvida, a recomendação é para que no primeiro mês de vida dele não haja um contato íntimo com o animal. Sabemos que objetos e animais peludos favorecem o aparecimento desses quadros”, ressalta.Fotos: Divulgação

HARMONIA - Ativista dos direitos dos animais, Luísa Mell narrou na internet a preparação para a chegada de Enzo, que nasceu em 2015 e convive em harmonia com os cães que têm em casa. Uma das dicas da ex-apresentadora é mostrar ao animal que ele não perdeu nada, mas continua sendo um grande companheiro

Vacinas em dia 

A pediatra também enumera doenças infecto-contagiosas que podem ser transmitidas por cães sem imunização adequada, dentre elas toxoplasmose, leishmaniose e toxocaríase. “É de suma importância a checagem do cartão de vacinas e o estado de saúde do pet para uma adequada convivência”, acrescenta.

Diretor-técnico do Instituto Nascer, em Belo Horizonte, o obstetra Hemmerson Magioni também chama a atenção para a relação entre o pet e a saúde da mulher. Segundo ele, é essencial respeitar o período de resguardo (45 dias) da mulher, que deve ser vivido com atenção e cuidado. "Antes desse período, pegar no colo animas de grande porte pode levar a uma sobrecarga na parede abdominal e no assoalho pélvico”, alerta. 

Manter o afastamento sugerido pelos especialistas, entretanto, não deve ser sinônimo de deixar o animal de lado. Adestradora na Cão Cidadão – empresa do especialista em comportamento animal Alexandre Rossi –, Natália Augusta Vitoriano diz que a atenção, nessa fase, deve ser mantida ou redobrada. 

“É importante que os tutores continuem dando atenção, seja levando para passear, brincando ou fazendo carinho. Quando os cães se sentem rejeitados começam a chamar a atenção dos donos e podem fazer isso de forma errada, como mudar o lugar do xixi e cocô, roer objetos não destinados a eles ou latir”, explica.

Sensação de abandono também pode levar a reações inesperadas, agressivas, sentimento de tristeza e falta de apetite. Nesses quadros, estímulos novos funcionam bem.

Para os cães, a falta de atenção dos tutores é interpretada como bronca. Pode ser legal oferecer um brinquedo novo ou levá-lo para um passeio no lugar preferido”, sugere a profissional. 

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