Não sei se o amigo leitor já teve essa impressão, mas os carros estão cada vez mais parecidos. Seja no formato, seja no comportamento. É tudo muito homogêneo: SUV, automático e por aí vai.
No HD AUTO testamos tudo que chega no mercado. E muitas vezes temos a sensação de guiar sempre o mesmo carro. Até a posição de dirigir é parecida.
Há uma explicação para tal. O mercado se ajusta às tendências de consumo. Marcas se unem para desenvolver conjuntos mecânicos e plataformas compartilhados. O resultado? Carro iguais na silhueta e na alma.
Mas como nas histórias em quadrinhos, sempre há um super-herói no meio da multidão. Alguns usam capa, outros um aerofólio imenso. É o caso do Honda Civic Type R.
Esse herói digno dos melhores mangás japoneses chegou ao Brasil em 2023 para suceder o Civic Si da geração passada. Caro, ele custa R$ 430 mil, mas te garanto que vale cada centavo.
Visualmente o Type R é menos exótico que seus antecessores. As linhas da atual geração do Civic são mais conservadoras. Mas claro que o spoiler frontal, os para-lamas alargados, saída de ar no capô, as rodas de 19 polegadas e o imenso aerofólio traseiro deixam claro que não se trata de um carro comum. E se o amigo prestar atenção há três ponteiras de escapamento no meio do para-choque.
Quando se olha para o interior, os bancos vermelhos (tradicionais nos modelos da família Type R) em forma de concha, eliminam todas as dúvidas sobre a identidade secreta desse super-herói japonês.
Outro detalhe: transmissão manual de seis marchas. Isso mesmo, nada de borboletas, dupla embreagem ou qualquer outra inovação que facilite a vida do motorista. O Type R tem caixa manual, com embreagem e não aceita erros na hora de fazer os engates.
E já que começamos a falar dos poderes do Civic, a caixa é atrelada a um motor 2.0 turbo de 297 cv e 42,8 kgfm de torque. É o Civic mais potente já vendido no Brasil.
Ao volante do Civic Type R
Quando nos acomodamos ao volante, a primeira sensação é o banco te “agarrando”. A concha se encaixa às costas. As abas do assento mantém as coxas devidamente posicionadas. Você já está vestido ao carro.
Esqueça as parafernálias triviais como multimídia flutuante, freio de estacionamento elétrico (com Auto Hold), carregamento por indução, climatização digital, ajustes elétricos e assistentes. E por favor não me questione sobre o tamanho do quadro de instrumentos digital. São elementos insignificantes diante do que esse carro entrega.
A única coisa que importa é o shift light (indicador de troca de marchas) sobre o cluster. Apenas preste atenção nas luzinhas (com sua visão periférica) para saber o momento certo de acionar a alavanca, com engates curtíssimos e assustadoramente precisos.
O Type R é um dos carros em produção com tração dianteira com maior oferta de potência e torque do mercado. E engana-se quem acha que o fato do eixo motriz à frente torna ele menos divertido que um carro de tração traseira.
A posição faz deste Civic um carro cirúrgico, ele encara curvas com uma voracidade incrível. Levamos o danado para serpentear em estradinhas vicinais no entorno de Belo Horizonte.
Ele desafia a física. E o melhor! Como todo torque está à frente, é mais fácil de corrigir, quando comparamos com um carro de tração traseira. Quem já perdeu um Mercedes C63 AMG (de forma programada, é bom deixar claro) tem propriedade para dizer.
Assim, quando homem e Civic se unem, a experiência é fantástica. A conexão com o carro é incrível, pois tudo está nas mãos do motorista, o tempo da troca, as reações. Os gráficos no painel e no multimídia podem ajudar a ler o comportamento do carro, mas na verdade tudo é sentido pelos pés, na hora das trocas, dos freios e até quando arriscamos fazer um punta taco (nem é preciso, ele repica sozinho) para bancar o piloto.
Como alguém com super poderes, o Civic Type R deixa claro que ainda há carros rebeldes, que não são iguais a todo o resto. Amém!
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