Exposição no CCBB celebra 50 anos de movimento armorial, capitaneado por Ariano Suassuna

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
18/12/2021 às 17:40.
Atualizado em 29/12/2021 às 00:34
 (CRIS DIAS/DIVULGAÇÃO)

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Início da década de 1970. O mundo das artes voltava os olhos para a pop art, com imagens e temas retirados da sociedade de consumo e da comunicação de massa, além do abstracionismo geométrico. A curadora Denise Mattar lembra que o viés americano era predominante, inclusive no Brasil.

“Eram manifestações que, em sua maioria, vinham muito de fora do Brasil”, destaca a ex-diretora técnica de instituições culturais como o Museu da Casa Brasileira, o Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. É nesse momento de influência estrangeira que surge a arte armorial.

Tema de exposição que será aberta nesta quarta-feira no Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte, o movimento pôs a literatura de cordel, a xilogravura e a música de viola do Nordeste como protagonistas. O grande mentor foi Ariano Suassuna, autor de obras célebres como “O Auto da Compadecida”.

Durante cinco décadas, o armorial ficou muito atrelado à figura do mestre paraibano. A mostra ajuda a expandir os olhares e enxergar outros participantes ativos do movimento. “O Ariano foi, sem dúvida, a alma, mas o armorial englobou várias frentes, muitos deles contribuindo até hoje”, destaca Denise.

Ariano Suassuna, assinala a curadora, propunha olhar com mais atenção para manifestações do povo brasileiro. “Para ele, havia ali uma riqueza e beleza de grande qualidade. A proposta do armorial foi juntar o erudito ao popular, mas sem fazer uma coisa folclorizada”, salienta.

“Ele propunha que a gente contentasse em entender todas essas raízes da arte popular e trabalhasse com elas”, pondera Denise, que dividiu a exposição em quatro núcleos. Em cada um deles vem à tona a diversidade, as tradições e as mais representativas raízes da cultura popular nordestina.

A primeira parte da mostra é totalmente dedicada à vida e obra de Suassuna, com destaque para manuscritos e para o alfabeto sertanejo, criado pelo artista com base na pesquisa “Ferros do Cariri, uma Heráldica Sertaneja”. No segundo, acompanhamos o primeiro momento do movimento, definido como fase experimental.

Nessa parte, Denise leva à exposição os figurinos do filme “A Compadecida”, feitos por Francisco Brennand. “Conseguimos um original com a viúva do diretor George Jonas e mandamos fazer outras três, Eles foram inspirados em referências da arte nordestina”, adianta Denise.

No terceiro núcleo, a exposição apresenta a segunda fase do movimento, focando nas iluminogravuras, poesias visuais criadas por Suassuna. Na última parte, tomamos contato com as referências do movimento, entre elas o maracatu, o reisado e o cavalo-marinho.

Curadora enxerga pontos em comum na estética do movimento com a arte mineira

Filho de Ariano Suassuna, Manuel Dantas Suassuna é um dos consultores da exposição. Discípulo do movimento, tendo participado da segunda fase, ele contribui também com algumas obras.

“Eu nasci dentro do armorial, já que meu pai e minha mãe, Zélia, se tornaram a minha maior referência. Onde eu for, o armorial estará ligado a mim artisticamente falando”, assinala.

Segundo Dantas, o pai defendia, na época, que deveríamos firmar a nossa cultura antes de outras tomarem o nosso dia a dia. Essa busca levou o movimento a ganhar referências internacionais.

Dantas cita o artista e ativista social chinês Ai Weiwei, que teve suas obras expostas no Brasil em 2019. “Ele pegou o alfabeto sertanejo e fez uma obra dele. Isso tem um simbolismo muito grande”, afirma.

A mostra curada por Denise Mattar seria aberta no Rio de Janeiro, no ano passado, em virtude do cinquentenário do movimento. Mas a pandemia de Covid postergou o seu início. Bom para os mineiros, que recebem o material em primeira mão.

“Há uma conversa muito interessante entre as estéticas mineira e armorial, ao valorizar algumas manifestações populares. Os nomes podem ser diferentes, mas é a mesma manifestação”, analisa a curadora.

SERVIÇO
“Movimento Armorial 50 Anos” – De quarta a 7 de março no Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários). De quarta a segunda, de 10 às 22 horas.

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