Efeito cascata

Aumento da passagem de ônibus em BH pode deixar até o pãozinho de sal mais caro; entenda

Raíssa Oliveira
raoliveira@hojeemdia.com.br
Publicado em 25/04/2023 às 07:00.
Presidente da Amipão dá como certo o aumento do pãozinho, já que o custo com a passagem de ônibus dos funcionários entra na planilha dos empresários (Fernando Michel)

Presidente da Amipão dá como certo o aumento do pãozinho, já que o custo com a passagem de ônibus dos funcionários entra na planilha dos empresários (Fernando Michel)

Do transporte a itens de consumo. Além do impacto direto no bolso dos passageiros, o aumento das passagens de ônibus em Belo Horizonte de R$ 4,50 para R$ 6 pode deixar produtos “queridinhos” dos brasileiros, como o pão francês, mais “salgados”. O cenário é indicado por especialistas e representantes do setor do comércio, que já apontam um efeito cascata gerado pelo reajuste de 33% na tarifa do coletivo. 

O pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG), Eduardo Antunes, explica que, direta ou indiretamente, a alta nas passagens aumenta custos de forma generalizada em setores e serviços e impacta a inflação, que vai saltar 2,28% apenas com o reajuste das tarifas de transporte coletivo.

“É muita coisa, o impacto é bem elevado. Este produto é o que tem o maior peso para o pessoal de baixa renda. Dentro de uma lista de quase 230 produtos básicos, as tarifas representam 7% do índice inteiro. Ele é o que mais significa em termos de produtos mensais para a família. Hoje a inflação em 12 meses para a população de baixa renda está por volta de 4,45%, essa variação nos ônibus já representaria um incremento de mais de 50% no índice”, afirma. 

O cálculo do custo de vida em BH é realizado mensalmente pelo Ipead. Segundo Antunes, o aumento das passagens na última semana já vai gerar impactos negativos na inflação de abril. “A tendência de baixa da inflação foi comprometida só por causa desse aumento detectado no final de abril. Já para maio, quando o índice for completo, a inflação que estava em -0,07% com certeza vai ser totalmente positiva. A população sofre muito com esse tipo de reajuste”. 

O pesquisador afirma que a conta será repassada para o consumidor, que além de pagar as passagens mais caras, sentirá no bolso o aumento de preços dos produtos e serviços, devido a um efeito cascata.

“Ele vai gerar esse efeito dominó. Muita gente que contrata diarista, por exemplo, vai rever devido ao vale-transporte associado ao salário. Alimentação também, porque os empresários que contratam as pessoas e isso gera impacto significativo na folha orçamentária das empresas, podendo inviabilizar uma contratação ou frear um aumento de salários”. 

Exemplo disso, o aumento dos produtos já é estimado inclusive na mesa do café do manhã, atingindo o pão francês. De acordo com o presidente do Sindicato e Associação Panificação e Confeitaria de Minas (Amipão), Vinícius Dantas, o reajuste trouxe preocupação para os empresários do setor, que já estudam um aumento no preço médio do produto para os próximos meses.

“Não tenho a menor dúvida de que teremos que fazer um aumento, 33% é um reajuste muito alto. Tenho que colocar na planilha esse custo, então o pão eu garanto que terá reajuste. Ainda é cedo para apontar uma data porque estamos esperando o andamento dos recursos. A economia não vai muito bem. Então vamos planilhar tudo isso e entender o que de fato está ocorrendo para agir”. 

Dantas aponta ainda que o aumento das passagens pode impactar diretamente na contratação de novos funcionários.

“As padarias mais centralizadas usam a mão de obra periférica e de outros municípios. Vamos ter um custo muito elevado e isso vai chegar à mesa do consumidor, vai se tornar um critério excludente. As pessoas que moram mais distante vão ter maior dificuldade para se empregar e a gente não tem outra opção. Os comerciantes vão optar por pessoas que moram mais próximo”, lamenta.

Embate político 
A tarifa dos ônibus de BH teve um reajuste de 33%, índice cinco vezes acima da inflação definida na quarta-feira (19), após audiência no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), e foi implementada no domingo (23). A medida acirra o embate entre o prefeito Fuad Noman e o presidente da Câmara Municipal Gabriel Azevedo.

A PBH informou que vai arcar com parte dos custos, no entanto disse que o valor da tarifa seguirá até que a Câmara aprove o projeto de lei que prevê um novo modelo de remuneração às empresas, com outro repasse de R$ 476 milhões às empresas de ônibus.

Medida duramente criticada pelo presidente da CMBH, vereador Gabriel Azevedo (sem partido). Segundo o parlamentar, Fuad “se rendeu” aos empresários do transporte público. Enquanto isso, as empresas alegam dificuldade de manutenção do sistema para justificar a necessidade de reajuste. 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por