
Paula tem 40 anos e está grávida do terceiro filho. Durante as férias, parte para o litoral paulista com as duas crianças e a mãe, hospedando-se na casa de veraneio da família. A decisão sobre construir uma piscina no local evidencia a posição de dependência da mulher numa sociedade patriarcal.
No filme “A Felicidade das Coisas”, que marca a estreia da premiada curta-metragista Thaís Fujinaga na direção de um longa, o marido de Paula não é visto em nenhum momento. As conversas por telefone nunca chegam a uma posição satisfatória e apontam para falta de amparo à família.
“A ausência paterna é um dado muito presente nas famílias brasileiras, desde pais que nunca registram os seus filhos até o que a gente vê no filme. Apesar de sustentá-la financeiramente, ele não está, de fato, presente no dia a dia, nos momentos de necessidade e de conflito”, destaca a realizadora.
Para Thaís, mães sobrecarregadas são uma realidade muito comum na sociedade brasileira. No caso do filme, embora ela tente usufruir de um tempo livre com os filhos e a mãe, Paula está o tempo inteiro trabalhando e lidando com problemas que estão, muitas vezes, intensificados pela ausência do marido.
O mote da piscina como algo que a protagonista quer muito ter, apesar das dificuldades para concretizar, pode gerar diversas leituras, explica a cineasta. “Uma delas é a dificuldade para mudar o rumo das coisas ou de perceber quais seriam os momentos de diversão que ela almeja”, analisa.
Para a diretora, porém, a piscina carrega uma ideia de que a nossa felicidade, no geral, está ligada às coisas. “Temos que realizar coisas, ter coisas, desde comprar um tênis até ter uma piscina em casa. Essa coligação entre felicidade e aquisição de bens é complexa, não podendo ser tachada de boa ou ruim”.
No caso de Paula, é uma felicidade que Thais define como “adiada”, não conseguindo realizá-la de forma completa. “Essa ideia de uma felicidade quase lá estava muito presente na minha cabeça, devido ao momento que estávamos vivendo, de muitas regressões políticas e sociais no Brasil”.
O filme é produzido pela Filmes de Plástico, casa de um quarteto mineiro que virou sinônimo de bom cinema e prêmios. “Sou admiradora do trabalho deles. Em 2014, eles queriam entrar no edital de núcleos criativos do Fundo Setorial e me convidaram para apresentar um projeto”, recorda.
Foi quando Thaís Fujinaga apresentou o argumento do que seria “A Felicidade das Coisas”. Após ganhar o edital, ela escreveu o primeiro tratamento e logo a Filmes de Plástico manifestou interesse em produzir o filme, o primeiro da produtora que não é assinado por nenhum dos fundadores.
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