risco à saúde

Pesquisa da Fiocruz Minas revela que população de Brumadinho tem alta exposição a metais pesados

Da Redação
portal@hojeemdia.com.br
07/07/2022 às 18:48.
Atualizado em 07/07/2022 às 18:55
 (Corpo de Bombeiros)

(Corpo de Bombeiros)

A saúde dos moradores de Brumadinho, na região metropolitana, precisa ser mais cuidadosamente monitorada, por causa do risco mais acentuado de doenças cardiovasculares e respiratórias. 

As recomendações de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Minas e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), divulgadas nesta quinta-feira (7), também alertam para a necessidade de oferecer à população serviço de suporte à saúde mental, ações de promoção da saúde e adequação dos serviços de saúde. 

As medidas propostas constam na primeira etapa de um estudo que avalia as condições de vida, saúde e trabalho da população de Brumadinho, após o desastre causado pelo rompimento da barragem da mineradora Vale, em janeiro de 2019, que resultou na morte de 270 pessoas. O Corpo de Bombeiros ainda atua em buscas no local da tragédia, porque há quatro desaparecidos.

“Os resultados mostram a necessidade de ter um olhar mais atento para as regiões com maiores percentuais dessas questões de saúde, que podem estar relacionadas às condições ambientais, como água e ar, e que precisam ser melhor investigadas”, afirma o coordenador-geral da pesquisa, Sérgio Peixoto.

Exposição a metais

Um dos aspectos avaliados na pesquisa, segundo a Fiocruz, é o perfil de exposição a metais, como arsênio, manganês, cádmio, mercúrio e chumbo, que têm concentrações elevadas em adultos, crianças e adolescentes que vivem na cidade. 

De acordo com o levantamento dos pesquisadores, entre os adolescentes, alguns metais estão acima dos limites de referência, com destaque para arsênio, manganês e chumbo. 

Nos adultos foram encontradas elevadas proporções de níveis aumentados de arsênio e de manganês.

Os resultados de exames feitos em crianças de 0 a 6 anos  mostraram que, em todas elas, foi detectada a presença de pelo menos um dos cinco metais em avaliação (além dos já citados, cádmio e mercúrio). 

As análises também apontaram que 50,6% das amostras urinárias de pessoas dessa faixa etária apresentaram pelo menos um metal acima do valor de referência. O arsênio foi encontrado acima do valor de referência em 41,9% das amostras analisadas e o chumbo em 13% delas.

Problemas respiratórios

Os pesquisadores também destacaram a referência a problemas respiratórios. Os adolescentes tiveram diagnósticos médicos de doenças crônicas como asma ou bronquite asmática, mencionadas por 12,3% dos entrevistados. Esse percentual é maior entre os moradores de algumas regiões, chegando a 23,8% entre os residentes do Parque da Cachoeira e 17,1% entre os que vivem no Córrego do Feijão, regiões diretamente expostas ao rompimento da barragem de rejeitos. 

Pneumonia foi citada por 10,9% dos adolescentes, mas, entre aqueles que moram no Pires, região banhada pelo Rio Paraopeba, que foi atingido pela lama, esse percentual foi de 16,7%.  

Doenças crônicas

Na população adulta, entre os registros de diagnósticos médicos de doenças crônicas mais citadas foram hipertensão (30,1%), colesterol alto (23,1%) e problema crônico de coluna (21,1%), com pequenas variações entre as regiões. 

O diabetes foi prevalente em 9,8% da população adulta. Esse resultado mostra estimativas maiores que as encontradas na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo IBGE em 2019. Na época, 23,9% da população brasileira com 18 anos tinha hipertensão, 14,6%, colesterol alto e 7,7%, diabetes.

Crianças

Em relação às crianças, 49% dos responsáveis observaram alterações na saúde dos filhos após o desastre. Os principais problemas de saúde apontados referem-se ao sistema respiratório e alterações na pele. O relato de alergia respiratória em Parque da Cachoeira, localidade diretamente atingida pelo desastre, foi quatro vezes mais frequente do que os referidos em Aranha - região mais distante da área atingida. 

Nas localidades com maior exposição a poeiras da mineração, Parque da Cachoeira e Tejuco, os relatos de infecção da pele foram três vezes mais frequentes do que em Aranha, de acordo com a Fiocruz.

“É importante o monitoramento da saúde dessa população, porque há uma dinâmica. No início do trabalho o problema principal era a lama, depois, a poeira, mais para frente será outra questão”, assinala o pesquisador da Fiocruz Minas Sérgio Peixoto.

Os dados foram coletados no segundo semestre de 2021. O estudo, que é longitudinal, também vai detectar as mudanças ocorridas nessas condições ao longo do tempo. E os participantes serão acompanhados a cada ano. A primeira etapa, recém-concluída, teve início em julho de 2021. Outras três já estão previstas para 2022, 2023 e 2024. 

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