Após tremor de terra, moradores de Congonhas relatam temor de rompimento de barragem

Renata Galdino e Renata Evangelista
26/11/2019 às 20:33.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:49
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

A noite de segunda-feira (25) e a madrugada de terça (26) não foram fáceis para os vizinhos da Barragem Casa de Pedra, em Congonhas, região Central do Estado. O abalo sísmico de 3,2 na escala Richter literalmente tirou o sono dos moradores que, agora, buscam entender se há risco, mesmo que a longo prazo, de rompimento da estrutura.Lucas Prates

Complexo Casa de Pedra está a poucos metros de casas dos bairros Cristo Rei e Residencial Gualter Monteiro; em março, MP recomendou a remoção de 2,5 mil pessoas do local

O tremor é uma preocupação a mais para eles. Em março, o Ministério Público recomendou a remoção de 2,5 mil pessoas dos bairros Cristo Rei e Residencial Gualter Monteiro.

Após as tragédias em Mariana e Brumadinho, na Grande BH, a população teme o colapso em Casa de Pedra, a maior barragem construída em área urbana no país. Apesar de a estrutura em Congonhas ser considerada de risco baixo, o dano potencial associado – por estar bem perto de casas – é alto, disse o chefe da Divisão de Segurança de Barragens da Associação Nacional de Mineração (ANM), Wagner Araújo.

Busca por respostas

Nesta quarta (27), o promotor de Justiça Vinícius Alcântara se reúne com a comunidade para, conforme Sandoval Pinto Filho, diretor de Meio Ambiente da União de Associações Comunitárias de Congonhas (Unaccon), esclarecer se, de fato, o local está seguro.

“O tema inicial seria o encontro que a ANM fez com a Amig (Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais), na semana passada, e as questões judiciais que envolvem a retirada dos moradores. Mas, vamos agregar esse caso (o abalo). É preciso inverter o cenário de medo e dúvida que reina por aqui”.

Que o diga Maria da Conceição Carlos Pinto, de 71 anos. Há três décadas, ela mora “debaixo da barragem”. “Antes não pensávamos que era tão perigoso, mas nos últimos tempos vivemos sem saber o que pode acontecer. Depois do tremor, só conseguimos dormir uma hora da manhã. Não há mais tranquilidade”, contou.

Moderado

Segundo o Observatório Sismológico (Obsis) da Universidade de Brasília (UnB), o epicentro do abalo sentido em Congonhas foi em Belo Vale, também na região Central.

A inspeção feita nesta terça-feira na Casa de Pedra, pela ANM, não apontou dano na estrutura, afirmou o tenente-coronel Flávio Godinho, da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil. A situação é a mesma em outros reservatórios de minério próximos. 

“Há barragens da Vale na região, consideradas de alto risco, e mesmo com o tremor, não tiveram problemas. A população pode ficar tranquila”, disse.

Técnico do Obsis, Nasser Yousef explicou que o abalo foi considerado moderado. “Não tem força suficiente para derrubar residências ou provocar trincas, a não ser que a edificação já esteja comprometida. Isso também vale para barragens”, frisou.

Sem anomalias

O abalo sísmico foi sentido em Congonhas por volta das 20h de segunda-feira. Em comunicado publicado no site, a prefeitura informou que a CSN Mineração, responsável pela Casa de Pedra, relatou que o tremor não causou anomalia na estrutura da barragem e descartou possível acidente no paiol de explosivos da empresa.

Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o reservatório tem 76 metros de altura e capacidade para 50 milhões de metros cúbicos (m³) de rejeitos. Em caso de rompimento, conforme o Ministério Público, a lama atingiria as primeiras edificações dos bairros Cristo Rei e Residencial Gualter Monteiro em até 30 segundos, tornando impossível qualquer tipo de atuação da Defesa Civil ou Bombeiros.

Em nota, a CSN reforçou que a inspeção realizada pela ANM e Defesa Civil constatou que o complexo está intacto. A mineradora afirmou que a área é monitorada 24 horas por dia. “Esse processo compreende o acompanhamento dos instrumentos automatizados – piezômetros – em tempo real, a partir da instalação de equipamentos que coletam as informações e transferem os dados diretamente para o sistema de gerenciamento das barragens”, diz a nota enviada.

Sobre os processos judiciais envolvendo a retirada dos moradores que vivem perto da barragem, a empresa não se posicionou.

  

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