Ela nasceu do sonho de um visionário político e foi transformada em concreto pelos traços de um gênio da arquitetura. Chegou a ser conhecida como templo do diabo, devido à ousadia do projeto, mas se tornou sagrada, imponente e admirada. Nos últimos anos, sofreu com a falta de zelo e, agora, aguarda ansiosa por novas e importantes conquistas.
Batizada Igreja São Francisco de Assis, na boca do povo Igrejinha da Pampulha, a construção modernista de BH ganha sobrevida. O tão esperado restauro do cartão-postal sairá do papel em novembro. A garantia foi dada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“O restauro ocorrerá. O dinheiro já estava assegurado, mas havia casamentos agendados” (Célia Corsino, superintendente do Iphan em Minas)
Além de recuperar o templo, a certeza de que a obra será tocada foi uma condição imposta pela Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (Unesco). A intervenção integra as ações solicitadas pela entidade para que o conjunto moderno da Pampulha figure na seleta lista de patrimônio cultural da humanidade.
Conforme o Hoje em Dia tem mostrado desde o último domingo, a capital mineira está em contagem regressiva pela obtenção da chancela internacional. Daqui a quatro dias, a metrópole saberá se o complexo pensado por Juscelino Kubitschek (1902 – 1976) e projetado por Oscar Niemeyer (1907 – 2012) terá o aval da Unesco. A decisão está prevista para sexta-feira em reunião que acontece em Istambul, na Turquia.
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A necessidade de reparos emergenciais e obras de conservação se arrastam desde meados de 2013. Infiltrações, mofo, manchas e até painéis danificados saltam aos olhos de quem visita o espaço.
O governo federal chegou a anunciar a liberação de verba para a empreitada, mas houve atraso no repasse e outros entraves. Dentre eles, a reforma esbarrou na agenda de casamentos na igreja. Só para este ano, mais de 200 celebrações estavam previstas.
“Na Igreja, o barroco curvo é revisitado de forma plena, sem, contudo, que se esqueça do modernismo” (Leônidas Oliveira, presidente da FMC)
Garantia
A superintendente do Iphan em Minas, Célia Corsino, garante que, desta vez, a restauração será uma realidade. A obra, orçada em R$ 1,4 milhão, conta com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas. A licitação foi finalizada e a expectativa é a de que seja necessário um ano para a conclusão dos trabalhos.

“A obra já poderia ter sido anunciada. O dinheiro estava assegurado, mas tinha a questão dos casamentos. A arquidiocese acompanhou o processo e agora houve um bloqueio nas agendas”, disse Célia.
A intervenção promete acabar com as infiltrações na estrutura e recuperar parte dos azulejos em tons azuis do pintor Cândido Portinari. O forro de madeira será trocado e a edificação receberá nova pintura, polimento do piso de mármore e limpeza da fachada.
Recentemente, o entorno da capela passou por grande intervenção com a criação de uma esplanada integrando o templo à praça Dino Barbieri. O tráfego de veículos foi proibido na avenida Otacílio Negrão de Lima (sentido Mineirão/Zoológico). Atualmente, o fluxo acontece na parte de cima da via, próximo ao Parque Guanabara, em um trecho de 300 metros de pista.
Na época, as mudanças geraram divergências com moradores e comerciantes. Mas hoje, porém, parecem ter caído no gosto popular. “Ficou ótimo. Valorizou a área dando preferência paras as pessoas e não para os carros. Crianças podem andar tranquilamente e os pais fazerem as fotos”, afirma a professora Nívia Rocha, de 32 anos, que na semana passada passeava com o filho Mateus, de 5 anos.
Assim como ela, milhares de pessoas vão ao monumento. A média é de pelo menos 5 mil visitações por mês. “O movimento é intenso durante todos os dias. São crianças, adultos, idosos, estrangeiros. Todo mundo gosta de vir aqui”, diz Elma de Fátima Vilaça da Silva, uma das funcionárias da igreja.
