Chacina de Unaí

Debate entre acusação e defesa chega ao fim; júri decide futuro de Antério Mânica ainda nesta sexta

Gabriel Rezende
grezende@hojeemdia.com.br
27/05/2022 às 14:52.
Atualizado em 27/05/2022 às 15:21
 (Gabriel Rezende/ Hoje em Dia)

(Gabriel Rezende/ Hoje em Dia)

Chega ao fim o debate entre acusação e defesa no julgamento de Antério Mânica, acusado de ser mandante da chacina de Unaí. Cada parte argumentou por 1h30, entre 10h e 13h30 desta sexta-feira (27). Em seguida, teve início o intervalo. Agora, cabe aos sete jurados decidirem pela condenação ou absolvição do réu. 

A expectativa é de que a sentença seja lida pela juíza Raquel Vasconcelos ao longo da tarde desta sexta-feira (17). O julgamento chegou ao quarto dia hoje e acontece 18 anos após a chacina, ocorrida em 2004. Morreram três auditores do trabalho e um motorista que os acompanhava.

Irmão de Antério, Norberto assumiu, em 2018, ter encomendado as mortes por descontentamento com fiscalizações feitas em fazendas da família Mânica, grande produtora de feijão. O Ministério Público Federal (MPF) acusa participação de Antério como também mandante dos assassinatos. 

No debate, representaram a acusação as promotoras Mirian Moreira Lima, Aldirla Pereira de Alburquerque e Juliana de Azevedo Santa Rosa Câmara, o procurador Henrique Hahn Martins, o advogado e ex-promotor Roberto Tardelli e a assistente Aline Giacon.

A defesa foi apresentada pelo advogados Marcelo Leonardo, Vania Maria Leonardo, Sérgio Rodrigues Leonardo, Carolina Luján Leonardo, Rogério Batista, Cristiane Luján Leonardo, Jussara Carneiro e Francisco Porto Filho.

Acusação

A promotora Juliana de Azevedo afirmou aos jurados que multas aplicadas pelo auditor fiscal Nelson José da Silva motivaram Antério a encomendar a chacina. Nelson foi uma das vítimas e seria o alvo principal. Os demais, conforme depoimento de um dos atiradores, foram mortos por estarem juntos a ele.

reunião que selou a morte de todos teria ocorrido em 27 de janeiro, um dia antes do crime, em um posto de combustível. Antério estaria dentro de um carro modelo Fiat Marea, e teria, segundo a acusação, ordenado "torrar todo mundo".

"As mortes dos demais são vistas como mero efeitos colaterais", afirmou Juliana. "Reconheço que a pendência do julgamento até hoje equivale a deixar de sepultar servidores públicos que morreram no exercício dos seus direitos profissionais", prosseguiu. 

As multas, conforme a acusação, são relacionadas a condições de trabalho de funcionários de fazendas da família Mânica. Entre 2000 e 2004, foram aplicadas R$ 30 mil em multas pelas condições de trabalho em propriedades de Antério. 

O procurador Henrique Hahn Martins disse que Antério era "o mais interessado" na morte dos auditores devido às multas. "O processo há 18 anos espera uma resposta. Ela só não vem porque se trata do senhor de terras Antônio Mânica", disse em referência ao poder econômico do réu. 

Assistentes de acusação, os advogados Roberto Tardelli e Aline Giacon  afirmaram que a confissão assinada por Norberto Mânica, irmão de Antério, foi uma forma de livrar o ex-prefeito. "Decidiram reduzir o 'prejuízo'. Norberto já está condenado e sem chance de sair. Livraremos quem conseguimos", afirmou Aline.

Defesa

A defesa, representada pelo advogado Marcelo Leonardo, iniciou apresentando uma arte com a estrutura hierárquica do crime, que apontava Norberto Mânica como único mandante. Ele disse que Antério lamenta as mortes e negou envolvimento do réu nos crimes. 

"[Prestamos] consideração e respeito às vítimas porque também consideramos que foi um crime repugnante e pelo qual os culpados já foram condenados. O resto da vida dele (Antério) está nas mãos dos senhores", disse Leonardo em direção aos jurados.

O advogado também lembrou o fato de Antério não ter sido indiciado pela Polícia Federal no inquérito do crime. Responsável pelo caso, o delegado Antônio Celso dos Santos, testemunha de defesa, negou evidências de participação do fazendeiro no crime, o que foi criticado e atacado pela acusação.

"Todo trabalho da Polícia Federal e do delegado Censo dos Santos foi usado e aplaudido para condenar os demais envolvidos. Quando foi para pedir a condenação dos que são responsáveis pelos fatos. Mas não ao inocentar a participação de Antério", analisou. 

O advogado também criticou Erinaldo e Hugo, condenados como pistoleiro e intermediário do crime, respectivamente, que foram testemunhas de acusação. Ambos fecharam acordo de delação premiada com o Ministério Público. 

"Se falou demais em impunidade. Não é culpa da defesa de Antério a impunidade em relação às pessoas condenadas. Foram elas que fizeram acordo com o Ministério Público e estão cumprindo a sentença em prisão domiciliar, apesar de culpados e condenados", completou.

Hierarquia do crime segundo a acusação:

(Arte: Hoje em Dia)

(Arte: Hoje em Dia)

Hierarquia do crime segundo a defesa:

(Arte: Hoje em Dia)

(Arte: Hoje em Dia)

Julgamento 

Esse é o segundo julgamento do ex-prefeito. Em 2015, ele e o irmão Norberto Mânica foram condenados como mandantes do crime. Eles foram sentenciados a 100 anos de prisão cada. Antério, no entanto, teve a condenação anulada em 2018. Por isso, é realizado o novo julgamento.

Ao longo de quatro dias, foram ouvidas 19 testemunhas, sendo 12 de acusação e cinco de defesa (um depoente foi dispensado), e dois réus confessos. Também foram apresentadas imagens e áudios envolvendo os assassinatos.

Relembre o crime
Em 28 de janeiro de 2004, os auditores fiscais do trabalho João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva e Erastótenes de Almeida Gonçalves e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram assassinados com tiros à queima-roupa, após uma emboscada na região rural de Unaí, no noroeste de Minas Gerais.

À época, o trio investigava denúncias de trabalho escravo que estaria acontecendo em fazendas da região. O crime ficou conhecido como Chacina de Unaí.

Rogério Alan, Erinaldo Silva e William Gomes foram condenados por serem "pistoleiros" contratados. As penas, juntas, somam 226 anos de prisão.

Os intermediários do crime, segundo a acusação, eram os empresários Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Castro. Os dois confessaram o crime e foram condenados.

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