Homicídio

Família de Bárbara Vitória questiona a polícia: 'Por que liberou o suspeito?'

Clara Mariz
Publicado em 11/08/2022 às 11:44.Atualizado em 11/08/2022 às 11:44.
Bárbara Victória foi morta aos 10 anos  (Arquivo Pesoal)
Bárbara Victória foi morta aos 10 anos (Arquivo Pesoal)

A família da menina Bárbara Victória, encontrada morta na última terça-feira (2) em um campo de futebol em Ribeirão das Neves, na Grande BH, questionou a investigação da Polícia Civil. De acordo com a advogada dos pais da criança, a Polícia Civil liberou o assassino mesmo tendo elementos para a prisão. 

"Porque a Polícia Civil liberou o único suspeito, mesmo depois de ouvi-lo, apesar de tantos indícios", disse a defensora Aline Fernandes em nota divulgada à imprensa hoje.

Na quarta-feira (10), a instituição afirmou que Paulo Sérgio de Oliveira, de 50 anos, foi o responsável pelo crime, após resultados do exame de DNA. O laudo apontou a presença de material genético do homem no corpo da menina.

O principal suspeito do crime havia fornecido, voluntariamente, material genético na terça-feira (2), quando o corpo de Bárbara foi encontrado. No dia seguinte, ele foi encontrado morto na casa de uma parente, em Belo Horizonte.

O suspeito já havia sido registrado por imagens de câmeras de segurança caminhando ao lado de Bárbara após a menina deixar uma padaria no domingo, 31 de julho, data em que ela foi declarada desaparecida. 

Pais suspeitos

No texto, a defensora afirma que os pais de Bárbara foram ouvidos pela PC como testemunhas, mas foram tratados “como suspeitos”. Um dos questionamentos feitos pela investigação foi a respeito do pedido de adiamento do depoimento da família, que seria no dia seguinte ao sepultamento da criança. 

“É desumano reprimir pais vitimados pelo crime da filha por não se manifestarem oficialmente em sede policial um dia após o enterro da filha que foi alvo da crueldade humana”, disse Aline Fernandes. 

Ainda de acordo com o pronunciamento, o responsável por solucionar o desaparecimento e morte da jovem indagou as condições financeiras do pai. “Insinuando que ele não teria capacidade econômica para estar sendo assistido por uma advogada desde o momento do desaparecimento de sua filha”, escreveu Aline. 

A reportagem do Hoje em Dia procurou a Polícia Civil questionando os fatos apresentados pela nota da família e aguarda retorno. 

Bárbara Victória

A menina de 10 anos morava no Mantiqueira, na região de Venda Nova, em BH, em uma casa humilde com a mãe, Luciene do Nascimento, com o pai, Rogério, um irmão mais novo de 1 ano, uma irmã de 3, e um irmão mais velho, de 15.

Bárbara saiu de casa para comprar pão por volta das 17h30. Imagens de câmeras de segurança mostram que a menina chegou ao estabelecimento, comprou os pães e deixou o local às 17h46. Às 17h53, ela aparece caminhando ao lado de Paulo Sérgio. Às 17h55, outra câmera registrou a menina descendo uma rua correndo.

Bárbara foi encontrada morta na terça-feira (2) a 500 m da casa onde morava, usando a mesma camisa do Atlético do dia em que desapareceu, mas sem o short. Conforme declaração de óbito emitida pelo Instituto Médico Legal (IML), a causa da morte foi asfixia.

Confira o texto da defesa da família na íntegra:

"Nota à imprensa 

Os genitores de Bárbara Victoria se manifestam conjuntamente a sua advogada, Dra Aline Fernandes, sobre as atualizações da investigação: 

A família tem interesse em conhecer todos os envolvidos no assassinato de Bárbara Victória, entretanto, há especulação em torno  da motivação do crime, o que não possui relevância, pois, nada explica a crueldade do assassinato. Bárbara era uma menina de 10 anos,  conhecida por sua pureza, meiguice e amabilidade, entretanto, foi amarrada, estuprada, violentada e posteriormente morta. Não existe qualquer motivo capaz de justificar um crime violento perpetrado contra o corpo de uma criança. 

Nesse momento, surgiram inúmeros comentários infundados com o intuito em deslocar o foco da investigação, o que poderá levar o caso ao esquecimento, como tantos outros. 

A família e a sociedade têm o direito de ter a resposta: “por que a Polícia Civil liberou o único suspeito, mesmo depois de ouvi-lo, apesar de tantos indícios?” É importante esclarecer que constou em boletim de ocorrência, realizado pela Polícia Militar no dia 01 de agosto, a existência da sacola de pão na casa do suspeito, assim como relatado pela genitora de Bárbara. O suspeito foi a última pessoa a ser vista em vídeo com a menor. Esse fato por si só seria o suficiente para ensejar a decretação da prisão preventiva ou temporária do sujeito, o que infelizmente não ocorreu.

A defesa, através de uma investigação autônoma, conseguiu realizar conectivo com a morte de Bianca dos Santos Faria, uma criança de 11 anos assassinada em 2012 com o mesmo modus operandi utilizado na morte de Bárbara. Constatou, ainda, que o autor do crime contra Bianca nunca foi localizado. Para além disso, averiguou que o suspeito do crime de Bárbara residiu próximo à casa de Bianca.

O que causa espanto é perceber que ao notificar a Polícia Civil das informações averiguadas, soube que tal fato não era novidade para o departamento. 

Mais uma vez, mesmo diante de todos os indicativos, fica a dúvida: porque não foi decretada a prisão preventiva do suspeito? 

Apesar de, até o presente momento, o único investigado ser Paulo Sérgio de Oliveira, persiste a dúvida quanto a autoria e o envolvimento de outros criminosos. Nesse sentido, a família de Bárbara e sua advogada, aguardam o fim da investigação que concluirá sobre a execução desse crime atroz e seus envolvidos.

Outrossim, pedimos compreensão a todos os veículos midiáticos que poupem a família nesse momento para conceder entrevistas. Bárbara foi vítima de uma crueldade histórica e inaceitável, todos se encontram em extremo sofrimento psicológico. 

Por fim, esclarece-se que os genitores de Bárbara foram ouvidos pela PCMG na condição de testemunhas, entretanto, foram inquiridos como suspeitos: o delegado Fábio Werneck, em desrespeito ao luto da família, questionou o fato de os genitores haverem remarcado o depoimento que seria no dia seguinte ao sepultamento da filha. Questionou, ainda, o fato da repercussão midiática em torno da família, situação que nenhum deles possui qualquer controle. É desumano reprimir pais vitimados pelo crime da filha por não se manifestarem oficialmente em sede policial um dia após o enterro da filha que foi alvo da crueldade humana. 
Como se não bastasse, o delegado indagou a renda do genitor, insinuando que ele não teria capacidade econômica para estar sendo assistido por uma advogada desde o momento do desaparecimento de sua filha, como se a pobreza fosse exceção ao princípio constitucional do acesso à justiça e à ampla defesa, o que é inadmissível. 

Cordialmente,

Dra Aline Fernandes"

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