Nesta semana, uma mina com 14 metros de extensão foi redescoberta após um buraco se abrir em frente a uma casa em Ouro Preto, na região Central de Minas. Anotícia chamou a atenção de muita gente, mas para quem mora no local, encontrar estruturas como essa faz parte da rotina. Isso porque, a cidade tem, registradas, cerca de 270 minas subterrâneas.
Os dados são de um mapeamento feito pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). No percurso de 5 km, da entrada da cidade, no bairro São Cristóvão, até a divisa com o município vizinho de Mariana, é possível que haja mais do que isso.
Estimam-se cerca de 350 galerias. Conforme Hernani Mota, professor, engenheiro de minas e especialista em mapeamento de minas subterrâneas, em 1937 foi feito um estudo que reportou esse valor. Desde então, a universidade tem tentado encontrar essas estruturas.
“Desde 1994, nós na UFOP desenvolvemos um trabalho de mapear essas minas, com três objetivos. O primeiro, é justamente o impacto que o desabamento do teto dessas estruturas podem ter nas ruas, casas e comércio da cidade. O segundo, é entender o potencial turístico delas. Já o terceiro, é que em 1982 a Instituição João Pinheiro, realizou o plano de urbanização de Ouro Preto, que mostrou que 40% da água usada aqui era extraída dessas minas. Hoje esse percentual já é bem mais baixo, mas mesmo assim ainda existe a captação de água, mesmo de forma clandestina”, contou o especialista.
Ainda segundo Hernani, já foram encontradas 270 estruturas. A maioria são minas do período colonial, porém ainda há poucos “farilhos”, que são caminhos de ventilação ou para acesso às minas, e algumas ruínas da mineração.
Sobre o buraco que surgiu na semana passada, o professor explicou que as minas de dentro da cidade, mesmo sendo de rocha compacta, seu teto, normalmente, é de minério de ferro, pouco resistente. Ele afirma, que o que pode ter acontecido é que com as chuvas, esse material sofreu uma saturação e acabou desabando, revelando o salão.
Mais ocorrências
Mesmo fora do período de chuvas, Hernani Mota, explica que acidentes como este podem acontecer devido a superficialidade das minas. “Algumas vezes, quando estamos fazendo o mapeamento, de dentro do salão da mina, você consegue escutar as pessoas dentro da casa acima conversando. Elas estão muito próximas à superfície”, contou.
Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre as minas, os pesquisadores da UFOP desenvolveram um site que mostra a localização de cada uma e conta um pouco mais sobre elas.
O que é uma mina
Existem dois tipos de mina em Ouro Preto, as de céu aberto, fruto de grandes escavações, e as subterrâneas, datadas do período colonial, onde as pessoas seguiam as camadas de solo que continham ouro. Elas são aberturas estreitas e, por isso, os deslocamentos que acontecem são pequenos.
O especialista explica que, na cidade, o bairro Taquaral foi construído acima de uma extensa área onde, uma vez, foram feitas escavações a céu aberto. No local, para acessar o minério, a camada externa mais resistente teve que ser retirada, o que acabou comprometendo o solo e o deixando instável. “O bairro todo está comprometido. É como se fosse um bolo alto que está sem estrutura. E tudo isso é consequência da mineração do período colonial. Todas as minas de ouro você encontra as marcas das escavações”, disse Hernani.