Audiência na Alemanha

Juiz alemão dá 90 dias para advogados das vítimas de Brumadinho provarem responsabilidade da Tüv Süd

Raquel Gontijo
raquel.maria@hojeemdia.com.br
19/09/2022 às 15:50.
Atualizado em 19/09/2022 às 15:54
 (Divulgação / Avabrum)

(Divulgação / Avabrum)

A Justiça alemã determinou nesta segunda-feira (19) um prazo de 90 dias para que os advogados das vítimas da tragédia de Brumadinho apresentem novos documentos para provar a responsabilidade da empresa Tüv Süd no rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em 2019. Ao todo, 272 pessoas morreram na tragédia e quatro ainda estão desaparecidas.

A audiência, realizada em Munique, na Alemanha, contou com o depoimento das mães de duas vítimas da tragédia. Alexandra Andrade e Maria Regina da Silva representam 183 pessoas, entre familiares de vítimas e sobreviventes, que entraram com ação de reparação de indenização contra a empresa alemã pelas perdas e danos causados pelo rompimento da barragem.

Conforme divulgado na época da tragédia, quatro meses antes do rompimento, a Tüv Süd havia certificado a barragem da Vale como estável. Segundo a Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão em Brumadinho (Avabrum), no julgamento desta segunda-feira, um dos advogados da Tüv Süd, Florian Stork, pediu a palavra para se dirigir aos familiares das vítimas e manifestou “arrependimento”. 

“Quando ele expressou sentimento pela dor das vítimas, ele se manifestou em inglês utilizando a palavra ‘regret’, e o tradutor para português utilizou a palavra ‘condolências’. Eu interrompi, e expliquei ao juiz que a palavra ‘regret’ significa arrependimento, culpa, e não condolências”, afirmou o advogado Maximiliano Garcez, que defende a Avabrum.

No entendimento do advogado, ainda que a defesa insista que a empresa não foi responsável pelo crime, o significado da palavra ‘regret’ “não tem nenhum tipo de dubiedade, confirmando a culpa que a Tüv Süd tem”.

Durante a audiência, Alexandra Andrade, uma das diretoras da Avabrum, que perdeu o irmão e primo na tragédia, expressou ao juiz sobre a brutalidade com que as vítimas foram mortas.

“É muito difícil, mas tem horas que a gente tem de falar que muitas das vítimas foram encontradas em segmentos, sem cabeça, sem braço, um pedaço da perna, um pé. E três anos e sete meses após o ocorrido, quatro vítimas ainda se encontram soterradas na lama. 
A Tüv Süd precisa ser punida, tem de haver justiça, esse crime não pode ficar impune”, disse em depoimento. 

Ainda na audiência, Maria Regina, mãe de uma das vítimas pediu por justiça. “A Tüv Süd, com a caneta dela, atestou, assinou o atestado de morte das 272 vítimas. Então ela tem que ser responsabilizada pelo que ela fez, pela caneta que ela levou pro Brasil”, afirmou.

De acordo com a Avabrum, um dos pontos cruciais para que a corte alemã tome decisão favorável a Brumadinho, é a comprovação de que Chris-Peter Meier, diretor de Negócios e Desenvolvimento da Tüv Süd na Alemanha e gerente no Brasil, ou outros executivos alemães, tiveram ciência e/ou atuação no laudo que atestou a estabilidade da barragem que colapsou em 2019.

Após prazo de 90 dias definido pelo Juiz para levantamento de documentos pela acusação, o tribunal vai decidir se vai requerer a produção de prova testemunhal.

Em nota a Tuv Sud afirmou que "continua profundamente abalada pelo trágico colapso da barragem em Brumadinho", mas que, contudo, está "segura" de que a TÜV SÜD "não tem responsabilidade legal pelo rompimento da barragem".

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