Menino que teve a perna amputada recebe convite de paralímpicos: 'Sonho de ser atleta continua'

Renata Evangelista
25/07/2019 às 10:18.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:42
 (Instagram/Reprodução)

(Instagram/Reprodução)

Menos de 24 horas após ter a perna esquerda amputada, o futuro de Gabriel Lucas Alves começou a ser traçado - ou pelo menos sonhado - pela família. "Ainda estamos com o coração partido. Mas vamos nos recuperar e incentivar que ele seja atleta paralímpico. Vamos abraçar essa causa", disse o pai do garoto de 15 anos, Amilton do Nascimento, que já recebeu visitas e telefonemas de atletas paralímpicos que convidaram Gabriel a treinar para se profissionalizar.

Gabriel é uma das vítimas da linha chilena. Ele caminhava por uma rua de Betim, na Grande BH, quando teve a perna atingida e cortada pela linha. O menino foi submetido a duas operações na tentativa de manter o membro, que acabou amputado na manhã de quarta-feira (24).

Rosimeire Alves Rosa, de 43 anos, tia de Gabriel, contou que o sobrinho continua internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) nesta quinta-feira (25), mas tem quadro clínico estável. "Dentro do que o médico esperava, a cirurgia correu bem. Vamos saber hoje quando ele poderá ir para o quarto", declarou.

Agora, a torcida é para uma recuperação rápida. "A cirurgia foi muito boa e agora vamos torcer para que a recuperação também seja boa", completou o pai do garoto. Segundo ele, uma das primeiras frases ditas pelo filho após acordar da cirurgia de amputação foi: "Minha perna está estranha. Sem a perna é estranho, né?"

Sonho de ser atleta

Antes de ser vítima da linha chilena, o grande sonho de Gabriel Lucas era ser jogador de futebol profissional. Agora, conforme a família, ele poderá ser atleta, só que na modalidade paralímpica. Para isso, o menino precisa de uma prótese que custa R$ 40 mil.

Os pais do adolescente não têm essa quantia, mas algumas pessoas e empresas já se ofereceram para doar o equipamento. "Por enquanto são promessas, não tem nada certo. Mas se não ganharmos a prótese, faremos uma campanha para arrecadar dinheiro e comprar o equipamento", revelou Amilton.

Esportes para amputados

 Rosimeire Alves/Divulgação Atletas paralímpicos visitaram os pais do menino que teve a perna amputada

Na manhã desta quinta-feira (25), um atleta paralímpico e um integrante da Associação Mineira de Desportos para Amputados (AMDA) estiveram no Hospital Regional de Betim para fazer um convite especial para os pais de Gabriel. "Queremos que ele treine no Centro de Referência Paralímpico da UFMG. Vim convidá-lo para fazer parte da equipe", revelou o atleta paralímpico Raniele Alves, de 39 anos.

Amputado há 15 anos, ele atualmente treina corrida de rua e de montanha, ciclismo, vôlei sentado e atletismo. "Vim aqui para incentivá-lo e mostrar que dá para continuar com o sonho de ser atleta", falou. Rodrigo Mitraud, presidente da AMDA, também conversou com os pais do menino.

"A agente apoia as pessoas nessa situação e ajuda a inserir no processo de cidadania no esporte. Dá para continuar tendo o sonho de ser atleta, eles não são limitados", disse. Mitraud acredita que, em aproximadamente seis meses, Gabriel poderá começar a treinar com bola.

Acidente

O acidente com Gabriel Lucas aconteceu na tarde de sábado (20), quando Gabriel Lucas caminhava pela avenida José Inácio Filho, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O menino voltava do treino de futebol no clube São Cristóvão quando foi atingido pela linha chilena, usada para empinar pipa. 

Segundo o irmão dele, Amilton Júnior, de 18 anos, algumas pessoas que passavam pelo local contaram que uma pipa com a linha estava suspensa na rua quando um ônibus passou e ela ficou presa no escapamento. Ao se mover junto com o ônibus, a linha atingiu a perna do adolescente e deixou sérios ferimentos. 

Gabriel foi socorrido por um motoqueiro que passava pelo local e, depois, por uma enfermeira, que realizou os primeiros-socorros e acionou uma ambulância.

Linha mortal

A linha chilena é vinte vezes mais cortante que um bisturi. Ela é tão potente pois recebe camadas de óxido de alumínio. Assim como o cerol, a linha chilena foi proibida há 17 anos em Minas Gerais. Lei de julho de 2002 prevê multa de até R$ 1.500 para quem portar o material. Além disso, segundo a Polícia Civil, o Código Penal qualifica o uso como crime passível de prisão. 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por