
"Para nós, não é só uma terra. É sagrado. É nossa ancestralidade", afirmou Makota Cassia Kidoialê, líder do Quilombo Manzo Kaiango, sobre a Serra do Curral, região alvo de um projeto minerário da Taquaril Mineração S.A (Tamisa).
Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (6), a integrante do movimento "Tira o Pé da Minha Serra" defendeu que deveria ter sido ouvida antes que tomassem a decisão, alegando que a autorização é um "genocidio cultural".
"É onde nos comunicamos com nossa fé e o Estado não pode ignorar isso. Somos nós que vamos dizer ao Estado quais os impactos causados à nossa cultura e nossa memória", afirmou.
A comunidade quilombola, na região Leste de Belo Horizonte, é patrimônio imaterial de Minas Gerais desde 2018 e patrimônio de BH desde 2013 e, segundo ela, será diretamente afetada pelo mineração na Serra do Curral.
A autorização de mineração na Serra do Curral foi concedida pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) à empresa Taquaril Mineração S.A. (Tamisa) na madrugada do 30 de abril.
Na coletiva, o movimento também rebateu declarações da empresa de que o empreendimento não destruiria a serra.
O arquiteto urbanista Roberto Andres afirmou que o clima é de "revolta e indignação". "Eles dizem que o projeto não terá impacto, que não tem plano de risco porque não tem risco. Quem acredita? Estamos no estado da tragédia de Mariana e Brumadinho", afirmou relembrando os rompimentos das barragens em novembro de 2015 e janeiro de 2019, respectivamente.
A também arquiteta Cláudia Pires disse que, embora não seja construída barragem no modelo à montante, como eram as estruturas de Brumadinho e Mariana. "A mineração gerará rejeitos, que precisarão ser contidos. Como você vai conter os rejeitos sem fazer contenção", questionou.
Cláudia também falou da preservação do meio ambiente. "Para ter vida, é preciso ter natureza, condições naturais para sobreviver. O que o projeto propõe é revogar direitos de fusos coletivos que uma sociedade possui", afirma.
Mobilização
Um grupo de artistas lançou, nesta sexta-feira (6), um manifesto de artistas e intelectuais pela Serra do Curral. Um "tuitaço" foi realizado, com as hashtags, #EuDefendoaSerraDoCurral e #TiraOPeDaMinhaSerra.
Visita técnica
A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) agendou para a próxima segunda-feira (9) uma visita técnica à Serra do Curral. O pedido foi feito pela vereadora Beatriz Cerqueira (PT).
O objetivo é "verificar a situação da Serra do Curral, tendo em vista o processo de tombamento em nível estadual de todo o seu conjunto". Participantes do Movimento Tira o Pé da Minha Serra também acompanharão a visita.
Tamisa
A reportagem procurou a Tamisa e aguarda retorno. Em entrevista coletiva nessa quinta-feira (5), o representante da empresa, Leandro Amorin, disse que não irá recuar na implantação do projeto de mineração. Ele também questionou a forma como o tema vem sendo tratado e a abordagem dada pela Assembleia. "Se continuarmos desta forma, não haverá mais aprovação de projetos de impacto ambiental em Minas Gerais", afirmou.