Rejeitos de mineração

Temendo enchentes, prefeitos da bacia do Paraopeba se reunirão para discutir medidas contra a Vale

Bernardo Estillac
bernardo.leal@hojeeemdia.com.br
14/02/2022 às 16:29.
Atualizado em 14/02/2022 às 17:33

Prefeitos de municípios localizados na bacia do rio Paraopeba se reunirão em Betim, na Grande BH, nesta terça-feira, às 15h, para discutir medidas contra a mineradora Vale. A queixa se dá pela possível presença de rejeitos de mineração da barragem de Brumadinho na água das enchentes que afetaram a região em janeiro.

Os prefeitos temem que as chuvas da última semana provoquem novas inundações devido à lama presente no rio desde que a barragem de rejeitos do Córrego do Feijão se rompeu em 2019.

Em 19 de janeiro, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) determinaram que a Vale deveria apoiar as prefeituras no processo de limpeza de vias públicas e propriedades particulares após as enchentes. Os municípios da região afirmam que não houve qualquer ação da empresa nesse sentido.

O secretário municipal de Meio Ambiente de Betim e presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, Ednard Tolomeu, afirma que a medida determinada pelos órgãos ambientais estaduais fortalece a ideia de que os municípios banhados pelo rio foram atingidos pela lama proveniente das atividades da mineradora.

"O texto do Estado deixa expressa a preocupação com o 'carreamento de rejeitos'. Além disso, a notificação obriga a mineradora a executar ações de estabilização de taludes e de margens ao longo de todos os rios da bacia hidrográfica do Paraopeba afetados por cheias, inclusive para evitar a erosão e que mais rejeitos cheguem aos cursos d'água", disse Tolomeu.

Em nota, a Vale afirmou que atendeu diversas solicitações de municípios da Bacia do Paraopeba, em caráter emergencial, voluntário e humanitário. Segundo a empresa, mais de 480 mil litros de água, além de cestas básicas, produtos de limpeza, higiene pessoal, colchões e EPIs foram destinados às cidades da região durante o período das chuvas.

A mineradora também informou que mantém diálogo constante com o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) e vem prestando todos os esclarecimentos relacionados a eventuais efeitos que possam ter relação com os impactos do rompimento da barragem de Brumadinho.

Problema por gerações
Em entrevista ao Hoje em Dia, o limnólogo (especialista em ecossistemas) e consultor ambiental Ricardo Motta Pinto Coelho afirmou que os reflexos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho serão sentidos por muitas gerações de moradores na região do rio Paraopeba.

O especialista explicou que as enchentes afetam a oxigenação da água e movimentam o rejeito sedimentado no fundo do rio. Com esse efeito, a lama invade as cidades e a água torna-se imprópria para consumo.

"Com a enchente, muitos materiais e esgoto são carregados para o rio e ele perde a oxigenação. Isso permite que os metais se dissolvam na água. É como se você tivesse um copo de água com açúcar e pegasse uma colher para mexer. Aí começam os problemas", analisou o especialista.

O consumo de água contaminada pelo rejeito da mineração, direto ou por meio de alimentos infectados, pode causar mal-estar, dores de cabeça e na região abdominal. Para o limnólogo, o problema vai além do contato direto com a água do Paraopeba e seus afluentes.

"Às vezes, o cara tem um poço de água limpinha, a uns 500 m de um rio de águas turvas. Ele bebe ali tranquilamente, mas é a mesma água, só sem os resíduos sólidos", comentou.

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