Cuidadora de idosos que denunciou racismo em vaga de emprego presta depoimento à polícia

José Vítor Camilo
14/11/2019 às 18:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:41
 (PC / DIVULGAÇÃO)

(PC / DIVULGAÇÃO)

Foi ouvida nesta quinta-feira (14), pela Polícia Civil (PC), a cuidadora de idosos, de 41 anos, que denunciou um caso de racismo envolvendo uma oferta de emprego para a função. O anúncio, recebido por ela via Whatsapp, trazia a seguinte afirmação: "Únicas exigências: Não podem ser negras, gordas e precisam de pelo menos 3 meses de experiência". Segundo a polícia, todos os envolvidos, como a franquia da agência Home Angels na região Centro-Sul de Belo Horizonte e a psicóloga que tem uma empresa de recrutamento de emprego e que repassou a mensagem para a vítima, poderão responder por racismo. 

Ainda de acordo com a PC, a cuidadora contou em seu depoimento que foi vetada do processo de seleção por ser negra, tendo inclusive chegado a argumentar com psicóloga, que intermediava a negociação, sobre o fato de ter vasta experiência para ocupar a vaga. "No entanto, de acordo com a cuidadora, a psicóloga reforçou a exigência da empresa contratante e ainda ofereceu acompanhamento psicológico para ela", disse a corporação.PC / DIVULGAÇÃO / N/A
Informações foram repassadas pela delegada Stefhany Martins, responsável pelas investigações

O caso segue em investigação e, nos próximos dias, os envolvidos deverão ser intimados a prestar esclarecimentos sobre os fatos. "Se confirmada a denúncia, os investigados podem responder pelo crime de racismo, com pena prevista de dois a cinco anos de reclusão. A delegada que coordena as investigações Stefhany Martins ressalta que o crime de racismo é imprescritível e inafiançável, segundo dispõe a Constituição Federal", conclui a PC. 

Procurada na quarta-feira (13), quando a denúncia veio à tona, a agência Home Angels, por meio de uma nota, negou a existência do requisito repassado na mensagem e afirmou que "repudia com veemência todo e qualquer ato de injúria racial ou racismo, em todas as suas formas de manifestação". A Home Angels ainda informou não possuir vínculo jurídico com a psicóloga por quem a mensagem foi enviada e que ela não tem autorização para emitir qualquer juízo de valor em nome da agência.

A reportagem também tentou várias vezes entrar em contato com a psicóloga e com a empresa A Leveza do Afeto, que teria repassado a mensagem, mas ninguém respondeu.

Relembre 

O caso de racismo foi divulgado no início do mês pela Associação dos Cuidadores de Idosos de Minas Gerais, mas só chegou até a imprensa na última quarta-feira, após uma das cuidadoras que recebeu a mensagem ter registrado uma denúncia por racismo na PC. Na postagem, a associação ainda emitiu uma nota de repúdio acompanhada da imagem que mostra a mensagem racista. Confira: 

 A mensagem, repassada para uma lista de transmissão pela psicóloga, oferecia 10 vagas para cuidadoras trabalharem como plantonistas, tendo como pagamento o valor de R$ 100. Segundo o boletim de ocorrência, a profissional afirmou que a empresa que oferecia as vagas era a agência Home Angels Centro-Sul, cujo escritório fica no Centro de Belo Horizonte.

Em uma troca de mensagens a qual a reportagem teve acesso, a intermediadora afirmou à cuidadora que a exigência era da empresa e que não havia nada que ela pudesse fazer. "Estou aqui para tentar empregar vocês! A leveza do afeto [empresa da psicóloga] adora as gordinhas, as negras as brancas e o resto tudo [sic]", respondeu.

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